Acompanhei uma série de reportagens sobre a despedida do Estádio Olímpico Monumental do Grêmio. Uma delas mostrava uma série de idosos indo fazer suas últimas visitas ao estádio, se emocionando como se um parente próximo tivesse partido. Ao ser perguntada sobre o porquê das lágrimas, respondeu uma torcedora do Grêmio :
'' É como se o clube fosse acabar amanhã. ''
Dito isso, farei uma breve análise sobre o materialismo na sociedade moderna.
Dizem-nos os mais antigos que não devemos nos apegar as coisas materiais. Um tio mais atrelado à Aliança Nacional Libertadora ainda dissera que a culpa de sermos assim, materialistas, é do Capitalismo, da sociedade de consumo.
O que indago, pois, é até que ponto o materialismo é ruim. Melhor : é o materialismo ruim?
Com uma cena tão bonita em Porto Alegre, associando o abstrato que é o amor pelo clube à concretude que é o palco do futebol, quase me tomo da síntese de que, como instrumento, como links para nossas lembranças, o concreto é mais do que bom, é fundamental.
Bom, eu estava mentindo no parágrafo acima. A verdade é que sou deveras contra o materialismo moderno e creio que nada concreto deva ser necessário para nos levar a um estado de espírito de prazer, melancolia, nostalgia, etc.
Toda essa encenação foi pra falar do futebol. No futebol, e somente nele, o concreto é bonito. Por que? Simples, pois o futebol é bonito. O futebol mexe com paixões e, como se isso já não bastasse, inverte clichês. É o esporte do paradoxo, capaz de fazer a dedução mais óbvia virar falácia e assim por diante. Explico:
É a redonda que faz o religioso mandar alguém Tomar no Cu.
É a rede balançando que faz o racista abraçar o negão de 2 metros ao seu lado e gritar É GOL, PORRA.
É a falta na entrada da área que faz Ateu rezar. ( E se for gol, pagar promessa )
É o estádio cheio que faz o tricolor pai de três filhos que xinga o Papa por ser contra a camisinha cantar João Paulo num Maracanã Lotado.
É a rivalidade que faz os operários colorados pararem o bonde em dia de clássico obrigando os burgueses celestes a irem a pé. ( E ainda botar esse fato no hino )
É o futebol que faz tudo isso e muito mais.
Enfim;
É o futebol que fez meu tio gaúcho, ex-membro da ANL, arrancar um tufo de grama do Monumental gremista e guardá-lo de maneira a só ser mexido em seu enterro. O mesmo que xingou o capitalismo e a sociedade de consumo.
Termino corrigindo-me:
Não é tudo que pode no futebol. É o futebol que pode tudo.
Abraços.