terça-feira, 6 de agosto de 2013

E eu

Disse Bertold Brecht, em seu Intertexto:

'' Primeiro levaram os negros 
Mas não me importei com isso 
Eu não era negro 

Em seguida levaram alguns operários 
Mas não me importei com isso 
Eu também não era operário 

Depois prenderam os miseráveis 
Mas não me importei com isso 
Porque eu não sou miserável 

Depois agarraram uns desempregados 
Mas como tenho meu emprego 
Também não me importei 

Agora estão me levando 
Mas já é tarde. 
Como eu não me importei com ninguém 
Ninguém se importa comigo.''

     ''Ninguém se importa comigo'' é, aparentemente, uma das sentenças mais tristes que alguém pode dizer. É a desilusão, é o fim, é a desistência.
     Se houve desistência, é porque houve tentativa. Se houve tentativa, é porque houve esperança. Atentem à Esperança. Friedrich Nietzsche (enlouqueceu), brevemente discursou sobre a Esperança:

     "A esperança é o derradeiro mal; é o pior dos males, porquanto prolonga o tormento.''

     Temos, pois, um conflito.  Se a desistência é o fim da esperança, e a esperança é o pior dos males, o derradeiro mal, o que há de ruim no fim da esperança?

   Desistir também é vencer. Há, sim, coragem na desistência, e não só covardia.

    Cada vez tenho mais certeza de que bem, mal, coragem, covardia e demais opostos são, mais do que conceitos que se confundem, inexistentes. Inexistentes, explico, em sua interpretação, em seu julgamento. Existentes, e aqui sim confundidos, dentro do ser. Como a moral kantiana, esses conceitos só existem por inteiro quando estão intimamente ligados à pessoa que comete o ato de agir. Não há redundância.

     ''A diferença do Porta dos Fundos para os outros projetos foi o simples fato de que, além de projetar, fizemos.'' João Vicente de Castro, um dos criadores do canal.

     ''Accio, Firebolt''  Harry Potter. Ação, Firebolt, quis dizer Harry, para salvar sua vida de um Dragão.

     Desistir, então, pode ser bom. Como de costume, o ser humano opta pelo ruim. Opta pelo esperar, pela esperança. Optar é uma forma de agir. Sendo assim, entre a desistência e a esperança, o grande vencedor do ser humano é o agir. Querendo ou não, a bola rola. Hoje, ajo.

     Como fiz questão de citar, Nietzsche enlouqueceu.
   
     E eu, como não é muito difícil de reparar - e aqui deixo a citação do Seu Jorge - :

     ''Puta que pariu, não vou nada bem.''

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Maratona América ( Isso cansa )

Você é tão doce como o Alabama
E tão salgada como o Lago da cidade
E tão linda como a Colúmbia Britânica
E tão fria como a Patagônia
E tão quente como a Amazônia
E tão lisa como os Pampas.
E tão áspera como Sampa.

Você é tão astuta como Massachusetts.
Você é tão robusta como o subúrbio do Rio de Janeiro em pleno sábado de sol
E tão charmosa quanto a torcida do Grêmio.
E ainda mais charmosa do que um Noel Rosa boêmio.
Você é tão rústica quanto Robert Johnson
E tão arranhada quanto Jimi Hendrix.
Você é a flor que Pancho Villa queria
Você é genial como as cinzas de uma Fênix.

Você é tão minha,

Quanto sou teu.

Mas,

Puta que te pariu,

Você tão cansativa quanto eu.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Silogismo do Amor

   - Se você me diz que um casal só é casal quando é amigo, e me diz que do sexo todos conseguem dar conta, eu gostaria de indagar por que caralhas trata o amor como mistério e escreve poemas bobos e idiotas para ele, quando o mesmo não passa de uma azeotrópica mistura, ou uma bucéfala soma de amizade com putaria?
   - A dedução é sempre um perigo, meu amigo. De qualquer forma, a resposta consiste no conflito que causa, que é, e que gera o amor.
   - Seja mais preciso.
   - Simples. O conflito ao qual me refiro é o paradoxo. Veja você, o que te motivou a, do nada, fazer aquela primeira indagação?
   - Um...
   - Pode falar amor. Um amor.
   - Uma mistura azeotrópica de amizade com beijos, digamos.
   - Então um amor te motivou a falar mal do amor?
   - Ao que parece...
   - Isso me parece paradoxal.
   - De fato.
   - O que te deixa com apenas uma possível dedução,
   - Você disse que a dedução é sempre um perigo.
   - O amor é um perigo, é uma incerteza, é um paradoxo. Vá em frente.

   Então, Contristati, o arrependido, olhou para o horizonte, reparou em como dois pontos paralelos pareciam se encontrar no infinito e deduziu:
   - Eu te amo, Paradoxo.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Tudo pode o Todo Poderoso

Acompanhei uma série de reportagens sobre a despedida do Estádio Olímpico Monumental do Grêmio. Uma delas mostrava uma série de idosos indo fazer suas últimas visitas ao estádio, se emocionando como se um parente próximo tivesse partido. Ao ser perguntada sobre o porquê das lágrimas, respondeu uma torcedora do Grêmio :

 '' É como se o clube fosse acabar amanhã. ''

Dito isso, farei uma breve análise sobre o materialismo na sociedade moderna.

Dizem-nos os mais antigos que não devemos nos apegar as coisas materiais. Um tio mais atrelado à Aliança Nacional Libertadora ainda dissera que a culpa de sermos assim, materialistas, é do Capitalismo, da sociedade de consumo.
O que indago, pois, é até que ponto o materialismo é ruim. Melhor : é o materialismo ruim?
Com uma cena tão bonita em Porto Alegre, associando o abstrato que é o amor pelo clube à concretude que é o palco do futebol, quase me tomo da síntese de que, como instrumento, como links para nossas lembranças, o concreto é mais do que bom, é fundamental.

Bom, eu estava mentindo no parágrafo acima. A verdade é que sou deveras contra o materialismo moderno e creio que nada concreto deva ser necessário para nos levar a um estado de espírito de prazer, melancolia, nostalgia, etc.

Toda essa encenação foi pra falar do futebol. No futebol, e somente nele, o concreto é bonito. Por que? Simples, pois o futebol é bonito. O futebol mexe com paixões e, como se isso já não bastasse, inverte clichês. É o esporte do paradoxo, capaz de fazer a dedução mais óbvia virar falácia e assim por diante. Explico:

É a redonda que faz o religioso mandar alguém Tomar no Cu.
É a rede balançando que faz o racista abraçar o negão de 2 metros ao seu lado e gritar É GOL, PORRA.
É a falta na entrada da área que faz Ateu rezar. ( E se for gol, pagar promessa )
É o estádio cheio que faz o tricolor pai de três filhos que xinga o Papa por ser contra a camisinha cantar João Paulo num Maracanã Lotado.
É a rivalidade que faz os operários colorados pararem o bonde em dia de clássico obrigando os burgueses celestes a irem a pé. ( E ainda botar esse fato no hino )
É o futebol que faz tudo isso e muito mais.
Enfim;
É o futebol que fez meu tio gaúcho, ex-membro da ANL, arrancar um tufo de grama do Monumental gremista e guardá-lo de maneira a só ser mexido em seu enterro. O mesmo que xingou o capitalismo e a sociedade de consumo.

Termino corrigindo-me:

Não é tudo que pode no futebol. É o futebol que pode tudo.

Abraços.

domingo, 29 de julho de 2012

Situação

Uns te odeiam por odiar
Outros te odeiam por te amar
Uns te amam por não conseguir te odiar
Outros te odeiam por não conseguir te amar.

Eu te amo por te amar e por não conseguir te odiar.
Mas também te odeio por não conseguir te amar.
Eu te amo e te odeio.
Pobres rimas.
Pobre aliteração.
Pobre Eu.
Pobre meu coração.

Te amo.

Ou não.

Certo mesmo,
É que odeio a situação.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Maior dos Ratos

Ensaio : dedico este texto a todos os ratos da piscina de Cazuza.


Era uma vez um gato chamado rato.
O Gato Rato estava empertigado atrás de um rato.
Afinal, ao ver um rato, Rato ia logo atrás.

Todo gato gosta de um rato.
Principalmente o Gato Rato.

Tão bom caçador era o Gato Rato,
Que,
Entre os gatos era renomado.
Sua arrogância era,
Se a humildade fosse uma gota,
Um espirro.

Enfim,
Tão grande era a arrogância do Gato Rato
Que,
Um dia foi caçar mais um de seus ratos.
E,
Acabou por morder seu próprio rabo.

E ficou com um rabo do tamanho do rabo de um gato.

E,
Gato com rabo de rato
Não é gato.

É rato.

E,
Assim nasceu o maior dos ratos,
O rato Rato.

domingo, 27 de maio de 2012

Menos uma, menos outra

OBS : Se preferir, este texto pode ser chamado de '' A Fórmula do Amor '' . Entretanto, me soa muito romântico.


Era dia quando a Mãe acordou seu filho.
Levante-se , potro.
Segue um bocejo, os olhos não enxergam nada.
Ou enxergam tudo, de acordo com leis refracionárias da física ótica, o branco seria a mistura de todas as cores.
Esse foi seu segundo pensamento depois de acordar.
O primeiro é óbvio. Só não cabe a mim descrever um filho xingando mentalmente sua mãe.
Lavar o rosto, escovar os dentes, tomar café, voltar a escovar os dentes.
Banho.
Descer o elevador, sem se esquecer do seu peso aparente maior. Peso maior que a normal.
Ao chegar o ônibus aquele desgostoso barulho de gás sendo liberado. Porque, pressão?
Aquele cantado das pneumáticas. Maldita dissipação de energia.
Maldito atrito. Em seu coração de pedra, o coeficiente parecia ser maior. E quanto mais ele sentia arranhar, menos deixava de ser de pedra seu coração.
Assim como o peso era aparente, também era a sua frieza.
Sua objetiva mente subjetivava sua amada.
Daí vinha seu atrito.
Todas as perguntas ele saberia responder.
Menos uma : seria mesmo meu coração de pedra?


Menos outra.