Parecia simpática.
No frio calor daquela sala, aonde todos olhavam para todos, mas ninguém falava com ninguém, ela chamava a atenção.
All Star marrom de cano alto, marcáveis dobras e rasgos em sua calça jeans. Pele de índia, rosto francês.
A camisa social de bolinhas multicoloridas não era o toque final.
As cerejas do bolo eram, no entanto, os óculos escuros que prendiam seus lisos, bagunçados e curtos cabelos.
Quem pudera ouvir sua voz. A voz era uma característica sempre importante.
Quem pudera tocá-la. Só de sentar ao seu lado, sentia exalar a maciez de sua pele marrom.
Quem pudera desabotoar apenas mais um de seus botões. Só restava um para que seus seios ficassem suficientemente expostos, provocando-lhe um orgasmo mental.
Mal sabia ele que aquilo apenas tornaria o seu desejo ainda maior. Prova disso foi primeira e quase última frase da mulher. Que calor. ( Ao mesmo tempo em que falava, desabotoava mais um botão ) . Ele viu, de acordo com o que aprendera na última sessão, seu ID aflorar. A guerra com o super-ego estava mais que declarada.
Entretanto, para o fim de sua breve loucura, a moça levantou e foi embora.
Mal ou bem, isso fez-lhe lembrar que estava apenas na sala de espera de um consultório de psicanálise.
Quando já se conformava, ela reaparece e diz : ( podia jurar que o som era de um harpa, não de uma mulher )
'' Estava precisando tomar um ar fresco ''. De repente, como se alguém tivesse rebobinado sua mente, ele parou. Olhou em volta, pensou e pensou em não pensar, mas tudo já estava perdido.
Parecia simpática.
No frio calor daquela sala, aonde todos olhavam para todos, mas ninguém falava com ninguém.
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